O corpo destituído da essência foi achado à beira do mangue
sem beleza
sem lua
sem asa
sem música
sem árvore
sem manhã.
Não há quem diga a causa mortis
porque apesar de morto parecia querer levantar-se
e colher na mão vazia o vôo da abelha no sol da tarde.
Deixou no inventário um lápis de cor
uma página em branco
um rio fluindo
um postal de Lisboa
umas roupas
uns discos
uma begônia à janela
um sino ao vento
e uma verdade
a serem repartidos com os justos.
Parentes não vieram reclamar o corpo
mas as borboletas, sim.
E o levaram na brisa azul do crepúsculo.
(O enterro será amanhã, naquela nuvem que se prepara para chover.)
Sergio Bernardo
Nova Friburgo/RJ
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