Nem todas as células-tronco têm o mesmo potencial para a diferenciação
Já dissemos que a célula-tronco por excelência é o zigoto, porque é uma célula totipotente, isto é, capaz de formar tanto o embrião (e, portanto, todo o organismo adulto) como também uma estrutura extra-embrionária, a placenta. O processo de clivagem (ou seguimentação) do zigoto produz então, por volta do terceiro ou quarto dia após a fecundação, uma estrutura chamada mórula, composta por 16-32 células num arranjo compacto, que lembra uma amora. Nesta etapa as células que compõem o embrião ainda são totipotentes.Etapas iniciais no desenvolvimento embrionário humano
Por volta do quinto dia, o embrião humano encontra-se na fase de blastocistos, um estágio de 32-64 células com a forma de uma esfera oca. A camada mais externa de células dessa esfera, chamada trofoblasto, dará origem aos tecidos extra-embrionários (placenta). No interior da esfera, um agrupamento de células localizado em um dos lados da cavidade (a massa celular interna) dará origem ao embrião propriamente dito.
As células da massa celular interna já não apresentam um potencial tão completo de diferenciação quanto o das células anteriores: são capazes de dar origem a todas as estruturas do embrião, mas não aos tecidos placentários. Essas células são então consideradas células-tronco pluripotentes.
A medida que o embrião se desenvolve, as células que o compõe mostram um potencial para diferenciação cada vez menor. Passamos então de células pluripotentes para células multipotentes (isto é, capazes de dar origem a um número menor de células especializadas) e destas para as células progenitoras (ou precursoras). As células progenitoras já náo podem ser consideradas como células-tronco, pois ao se dividir não produzem outras células progenitoras similares. Ao contrário, as células resultantes da divisão adquirem uma morfologia e fisiologia próprias, especializando-se no desempenho de uma tarefa específica no organismo (células diferenciadas).
Retomando a imagem da "árvore" que vimos anteriormente, representando o desenvolvimento embrionário até a formação de um organismo adulto, veríamos que, a partir dos galhos mais grossos (células-tronco pluripotentes), os ramos vão se bifurcando(células-tronco multipotentes) e ficando cada vez mais finos (células progenitoras), até chegarem às folhas (que representam os tipos celulares já completamente diferenciados).
Células-tronco embrionárias e células-tronco adultas
Até aqui fizemos referência ao fato de que, durante o desenvolvimento embrionário, encontramos células-tronco com diferentes potenciais de diferenciação celular. mas isso não significa que, uma vez formado o indivíduo, todas as células sejam células plenamente diferenciadas. Mesmo num organismo adulto, existem tecidos e órgãos que precisam ser continuamente renovados; dessa forma, as células-tronco são fundamentais na manutenção dessas populações celulares. Como exemplo, podemos lembrar a produção constante do sangue, o crescimento contínuo dos pelos, a renovação das células da pele e também das células da mucosa do tubo digestório.Classicamente se admite que as células-tronco adultas diferem das células-tronco embrionárias, pois apresentam um potencial mais limitado de diferenciação. Embora somente algumas sejam consideradas pluripotentes (na medula óssea, por exemplo), em sua maioria são células multipotentes e progenitoras, capazes de dar origem apenas a um determinado tipo celular ou, no máximo, a poucos tipos celulares relacionados.
Há tempos já se sabia da presença de células indiferenciadas em meio às demais células do epitélio gastrointestinal. Esse é um tipo de epitélio que se renova totalmente a cada sete dias, e essa renovação se faz à custa, exatamente, dessas células-tronco (ou células-fonte, como são às vezes chamadas), que se dividem continuamente por mitose. Em tecidos epiteliais estratificados (com várias camadas)-como a epiderme, por exemplo--as mitoses ocorrem continuamente na camada mais basal do epitélio (a chamada camada germinativa).
Atualmente já foi estabelecida, com segurança, a presença de células-tronco em locais tão diversos do corpo humano como o cérebro, retina, córnea, músculos, coração, medula óssea, sangue, parede dos vasos sanguíneos, pâncreas, tecido adiposo e polpa dentária.
Mais recentemente, pesquisas feitas com células-tronco adultas do corpo humano indicaram uma certa capacidade de transformação de um tipo celular em outro, quando a célula-tronco é submetida a procedimentos diversos. Assim, por exemplo, demonstraram-se, entre outras, as seguintes transformações:
- de células-tronco neurais em músculos;
- de células-tronco do tecido adiposo em cartilagem, osso e músculo;
- de células-tronco da medula óssea em músculo, células nervosas, fígado, osso, cartilagem e gordura.
Células-tronco também foram indentificadas no cordão umbilical e na placenta. Ora, essas células não são exatamente um exemplo de células-tronco embrionárias porque não pertencem a um embrião, mas, sim, a estruturas extra-embrionárias, e também porque apresentam uma capacidade de diferenciação celular limitada. Assim são consideradas -- por comodidade, já que provêm de estruturas que não pertencem ao corpo de um ser humano adulto -- como células-tronco adultas. Ou, se quisermos utilizar um termo mais adequado e mais abrangente, que possa referir-se tanto às células-tronco do cordão e da placenta como àquelas presentes no organismo adulto, podemos falar em células-tronco pós-natais.
Células-tronco no cordão umbilical e na placenta.
No Brasil existem atualmente cerca de uma dezena de Bancos de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário (BSCUP). Nesses locais, o sangue coletado do cordão umbilical e da placenta de doadores é armazenado para utilização futura em pesquisa e terapias. Esse sangue contém células-tronco homocitopoéticas (isto é, que dão origem a todos os tipos de células sanguíneas), extremamente úteis no tratamento de moléstias hematológicas graves, como leocemias, anemia falciforme e talassemia, entre outras.Segundo alguns pesquisadores, essas células, por serem provinientes dos estágios iniciais da vida, apresentam um potencial para a diferenciação celular mais amplo que aquele das células-tronco homocitopoéticas adultas. Quando se faz referência à existência de células-tronco no cordão umbilical e na placenta, usualmente só se pensa nas células precursoras de células sanguíneas. Mas é bom lembrar que em meio ao tecido de preenchimento do cordão umbilical também é encontrado um outro tipo de células-tronco, as células mensenquimais, antecessoras das células dos tecidos adiposo, conjuntivo, cartilaginoso e ósseo.

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